sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ciume mal de inveja

Quero lá eu saber,
Quero lá eu ver,
Que fel me arde na garganta,
Esta morte que canta,
Este barco sem rumo,
Este pesar sem prumo,
Esta triste suplica de viver
Só por tragicamente te querer.

Quero lá eu ter,
Quero lá eu querer,
Esta ânsia que arde,
Este amor que já vem tarde,
Este rio selvagem,
Que corre sem margem,
Só com medo de te perder,
Mesmo antes de te ter.

Quero lá eu ver,
Quero lá eu ser,
Um companheiro molestado,
Que usas para teu agrado,
É ciume, este mau olhado,
Dor, lastimoso estado
Raios me partam sem saber,
Se é isto que chamam viver...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Estas penas...

Se não valer a pena,
Não vou mais respirar,
Se não valer a pena,
Não mereço amar,
Se não valer a pena,
Não -quero continuar a viver,
Se não valer a pena
Como será morrer?

Se nada mais vale a pena,
Para quê continuar a lutar?
Se nada mais vale a pena,
De que serve este pesar?

Se apenas valer a pena,
Porquê acordar?
Se apenas valer a pena,
Se calhar paro hoje de sonhar.

Mas se ainda valer a pena,
Vou-me levantar,
Mas se ainda valer a pena,
Para quê lágrimas derramar?
Mas se ainda valer a pena,
Vou partir para o alto mar.

Mesmo que valha a pena,
Mesmo que continue a caminhar,
Ainda que caminhe a par
Com esta estranha forma de pesar,
Mesmo que valha a pena,
Um poema declamar,
Mesmo que valha a pena,
Uma alma plantar,
Mesmo que valha a pena,
Esta má sorte dominar,
De certeza vou ter de me dominar.

Sempre que valha a pena,
Vou sempre tentar,
Sempre que valha a pena,
Algo novo vou experimentar,
Sempre que valha a pena,
Os sentimentos de parte vou deixar.
Sempre que valha a pena,
Não vou chorar,
Sempre que valha a pena,
Para quê palavras gastar?

Se não valer a pena,
A morte virá-me buscar.

Se nada mais valer a pena,
Nada serve lutar.

Se apenas valer a pena,
Esta dor vou suportar.

Mas se ainda valer a pena,
Talvez torne a amar.

Mesmo que valha a pena,
Não sei se quero continuar.

Sempre que valha a pena,
Vou continuar a acreditar...

sábado, 19 de dezembro de 2009

Espelho de água

Devaneios mentais, obscuros intrínsecos meus, perdoai minha infidelidade à douta ignorância que persisto indubitavelmente em fugir.
Um grito surdo-mudo arranha-me a garganta e teima em não sair. Dai alvissaras a quem o extrair!
Quem consegue libertar-me da minha própria mágoa? O Demo não me alivia a dor terrifica que assombra a luz do meu caminho.
Invado-me numa fuga grotesca que chega ao fim em menos de nada. Como é forte este grito, como é forte o poder do vazio.
A escuridão que me queima os olhos e me gela os pulmões, esmaga-me contra a minha própria barreira de protecção, onde ninguém pode entrar sem ser eu no mais profundo querer.
Apodera-te de mim luz maldita! Leva-me para pregar numa cruz!
Que grito tão aflitivo, este que teima em aniquilar-me!
Oh...que mesuras tamanhas, quando ainda sabia de mim, quando ainda sentia por mim, quando ainda me lembrava de mim.
Grito, porque não sais, porque não dissolves a escuridão de uma vez? Porque não me deixas ver?
Quero sair daqui! As lágrimas já não são húmidas, são pedaços do meu coração que esquartejas-te, que escorrem pelos ossos da cara, que já nem pele têm de tanto que me sugas-te.
Tentei mais uma vez agarrar-te e puxar-te para fora, mas as mãos escorregam. Pensava de ser transpiração, mas agora vejo que nada mais é se não o suor vermelho. É sangue!
Tenho sede. Os lábios secaram uma última vez. Não consigo descolá-los, estão presos, tu fechaste-los. Rastejei até à fonte. Dou puxões no meu corpo ao ritmo dos punhais que entram e saem...entram e saem...entram e saem...Ai, que dor tamanha...que sofrimento derradeiro! Porque não matas logo Satanás?
Consegui! Cheguei à fonte, mas não pude beber. Não queria ver mais o meu sofrimento no reflexo da água. Esse espelho podia matar-me, o quão fraco estava...
Porque não resolvi tudo quando pude? Porque não disse tudo quando pude? Porque não fiz tudo quando pude? Porque não vivi quando pude?
Agora é tarde, o inicio vai marcar o fim. O primeiro dia do Apocalipse chegou e com ele o cataclismo da minha existência!
Fujam...corram em quanto podem, resolvam o que puderem, digam o que puderem, façam o que puderem, vivam o mais que puderem! Não olhe para trás, fiquem indiferentes ao sofrimento do pobre mendigo de si próprio. Fujam...vão em quanto é tempo, corram já, que eu não suporto mais vê-los a desperdiçar o que eu desperdicei! Esta fonte já secou, nada mais pode ensinar. Agora são vocês que têm que lutar.
Sinto uma lufada quente pousada no ombro direito. Não consigo olhar, dói de mais...Tenho que resistir, mas a queimadura persiste em mim.
Vou reunir forças, vou olhar. O medo está a consumir-me, mas vou tentar.




Estou perplexo...ofegante...que bonito. Não posso mais conter, é hora. Só pode ser uma identidade superior, que vem por termo a este sofrimento! Bem dito sois vós Salvador! Ri-me e solucei lágrimas. É ele. Não posso mais negar...Estou cego da vida agora, não posso nada mais querer. Que prazer. A erudição daquela imagem consome-me, sinto-me vivo.
Os lábios estão a queimar, não sei o que é...a boca vai saltar, que agonia... e grito.
O grito surdo-mudo que me arranhava a garganta e a escuridão que me rodeava desmantelou-se. Caiu a meus pés.
Tudo é claro, simples, mágico...Quero olhar nos olhos do meu Salvador e beijar-lhe os santos pés...É agora.

SOU EU!
SOU EU O MEU SALVADOR!
A imagem que vejo sou eu reflectido na água da fonte. Sou eu o meu próprio grito que me prende e mata, sou eu o meu Demónio, sou eu o meu Salvador.
Sou eu prisioneiro de mim, jurado por mim.
Oh que fiz eu, afinal é cedo ainda! Ainda posso algo fazer, ainda não vou morrer...
Vou resolver tudo o que puder, vou dizer tudo o que puder, vou fazer tudo o que puder,

VOU VIVER TUDO, O QUE PUDER...


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Cigarro das incertezas

Amar como me amei ninguém mais ama. Ninguém mais do que eu, é tão verdade...
Talvez seja o amor a única fonte de energia que pode movimentar o mundo. Talvez seja por ele que estou aqui, presente, a escrever estas palavras...por amor a mim!

Podemos comparar a ambiguidade das palavras à ambiguidade do destino: uma escolha, várias consequências; uma palavra, vários significados, mas nunca nada de concreto.

Ponho-me a pensar: "Quem serei daqui a cinco anos?"

Não é inteligente da minha parte, eu sei, pura cobardia minha refugiar-me no futuro para esconder-me do presente e fugir como o Diabo da Cruz do passado.
Apesar das suas manhas, as palavras são a minha inspiração. Antoine des Saint Exupery tinha razão. São elas culpadas! São elas a fonte dos mais horrendos desentendimentos.

E se num momento sóbrio, pegasse numa palavra, me sentasse nesta mesma secretária, neste mesmo computador e desse forma e alma a esse conjunto de letras?
E se essa palavra fosse "QUERER".
Um verbo, uma acção...Uma palavra que implica tanta coisa mesmo sendo pequena.
Eu QUERO, porque posso perceber o quão importante é QUERER!
Se pudesse comprava esta palavra só para mim, porque eu QUERO-A!

Eu quero tanta coisa para mim, quero estudar numa academia de artes em Londres...quero amar...quero ser amado...quero viver, mas quero tanto viver...quero ser iluminado...quero sentir os lábios da sorte sempre pousados na minha testa e ter a mão da felicidade sempre apoiada no meu ombro...Tanto que eu quero...quero, mas quero mesmo muito...

Mas este navio naufragado de "querer" abre um abismo na minha personalidade.
Falta qualquer coisa, não posso viver apenas para "querer", tenho que fazer algo, urgentemente antes da colisão derradeira entre a vida real e os sonhos. Antes que a vela se apague, antes que o mundo acabe, antes que os mortais sucumbam, eu tenho que fazer algo.

Estagnei, não consigo pensar. Tenho que sair à rua e fumar um cigarro. Preciso de pensar, mas não agora, aliás não tenho que ter vergonha, não tenho que querer ser diferente dos outros. Afinal todos o fazem, todos nós adiamos os nossos assuntos para depois do cigarro. É a nossa essência.
O cigarro é um bom conselheiro, pelo menos para alguns. Os problemas apagam-se juntamente com eles, o que faz do cinzeiro um autêntico mar de incertezas. Fumemos então o cigarro do esquecimento para delir todas as nossas incertezas.